GEOSSITIO das Aguas Quentes
(Ladeira dos Envendos)
PONTO 1 - Coordenadas
39°36'37.0"N 7°51'36.5"W
A Unidade de Padrão-Silveira, do Neoproterozoico, é caracterizada, na generalidade, por alternâncias de filitos escuros, muitas vezes laminados, e conjuntos de bancadas de metagrauvaques, por vezes grosseiros, e de microconglomerados. Estes últimos estratos, amalgamados e com espessura métrica que pode atingir os 4-5 m, são constituídos por sedimentos grosseiros a muito grosseiros, diminuindo progressivamente de granularidade para materiais mais finos no topo das bancadas. São constituídos por clastos isolados de quartzo, lidito, fragmentos de rocha vulcânica, feldspatos e intraclastos argilosos de cor escura fosfatados (?), de dimensão variável entre 0,1 mm a 3-4 mm, no seio de uma matriz silto-argilosa de cor cinzenta. As bases destas bancadas são fortemente erosivas, observando-se por vezes figuras de carga que apresentam desenvolvimento em forma de "chama". O topo encontra-se muitas vezes erosionado pelas camadas sobrepostas ou com termos litológicos finos de decantação. As bancadas de metagrauvaques mais finas apresentam granularidade mais homogénea e por vezes estão laminadas.
PONTO 2 - Coordenadas
39°36'33.1"N 7°51'37.2"W
Formação do Quartzito Armoricano, Ordovícico Inferior. Caracteriza-se, na generalidade, por bancadas de metagrauvaques, normalmente amalgamadas e com espessura de algumas dezenas de metros, relativamente aos estratos de metassiltitos e metapelitos.
A Formação do Quartzito Armoricano é constituída, da base para o topo, por conglomerados e arenitos arcósicos, ocasionalmente bioturbados (Membro da Serra do Carvalhal). ao qual se sobrepõe um conjunto de bancadas de quartzitos de espessura variável entre 1,5 m e 0,3 m (Membro de Ribeira da Cabroeira). Por cima das bancadas quartzíticas anteriores ocorrem estratos silto-areníticos e siltíticos de cor cinzento-esverdeada, de espessura centimétrica a métrica, intercalados de quartzitos e pelitos cinzentos (Membro de Vale da Mua). Este membro apresenta uma espessura de cerca de 80 m. A Formação do Quartzito Armoricano termina pelo aparecimento de um conjunto de bancadas de quartzitos métricos a centimétricos, muitas vezes, com abundância de icnofósseis, nomeadamente Cruziana e mais espaçadamente Skolithos, atingindo cerca de 70-80 m de espessura (Membro de Ribeira da Cabroeira).
A Formação do Quartzito Armoricano apresenta variação lateral de litofácies mais marcada no flanco S do sinforma Amêndoa-Carvoeiro. A sua espessura e as suas litofácies, particularmente no bordo S da estrutura maior, apresentam grande diversidade devido a características paleogeográficas próprias, relacionadas provavelmente com movimentações tectónicas que produzem taxas de subsidência diferenciadas, junto à zona de contacto entre as ZCI e ZOM.
No bordo N ocorre maior homogeneidade, quer na espessura (80-100 m) quer na litofácies desta unidade.
A Formação do Quartzito Armoricano é caracterizada por apresentar abundantes icnofósseis principalmente do tipo Skolithos (Skolithos linearis Haldemann, Skolithos dufrenoyi Rouault e Skolithos isp. identificados nas serras de Carvalhal e da Galega e em Pico do Ar e Robalo e Cruziana (Cruziana goldfussi Rouault, Cruziana furcifera D' Orbigny, Cruziana rugosa D'Orbigny e Cruziana isp. em Amêndoa, Gargantada e Capela e Cruziana bagnolensis Moriére, Cruziana cf. cordieri Rouault e Cruziana beirensis Delgado, respetivamente, na Gargantada, serra da Galega e Amêndoa). As icnofácies de Skolithos apresentam baixa diversidade e ocorrem preferencialmente na parte inferior desta formação e mais ocasionalmente nalgumas bancadas quartzíticas dispersas pela sua parte superior. Os icnogéneros da associação Cruziana possuem alta diversidade e são encontrados dominantemente na parte superior desta unidade, em particular, no Membro de Vale da Mua.
A sequência globalmente transgressiva da Formação do Quartzito Armoricano é considerada, na generalidade, como depositada em ambiente de plataforma litoral marinha, muito estendida e pouco profunda, onde predominam a ação das marés, das vagas, das correntes costeiras e de tempestades, podendo ocorrer muito localmente deposição em leque deltaico.
PONTO 3 - Coordenadas
39°36'30.8"N 7°51'40.7"W
Formação de Brejo Fundeiro, do Ordovícico Médio.
Esta unidade, com uma espessura aproximadamente de 150 a 200 m, é constituída genericamente por uma sequência pelítica, muito fossilífera, intercalada junto à base de barras quartzíticas de fraca espessura e de siltitos. Nesta unidade foi individualizado um conjunto inferior, com cerca de 50-65 m de espessura, que se inicia por um horizonte microconglomerático ferruginoso lenticular com alguns centímetros de possança e se pode observar em Zimbreira e Vale. Este nível, de coloração mais escura, contém clastos de diversa natureza (arenitos, pelitos fosfatados, etc.), fragmentos de lingulídeos e minerais pesados (monazite, zircão e turmalina). Este horizonte encontra-se, localmente, interestratificado nas litologias silto-pelíticas que ocorrem nos primeiros metros do membro inferior da Formação de Brejo Fundeiro.
A este horizonte sobrepõe-se um conjunto, com cerca de 100-120 m, constituído por pelitos escuros intercalados, por vezes, de siltitos e mais ocasionalmente de estratos lenticulares centimétricos formados por conglomerados intraformacionais (Membro de Fonte da Amêndoa, MFA). As bancadas pelíticas apresentam tipicamente laminação paralela de pequena escala e na base das camadas, por vezes, estruturas em chama; os siltitos são maciços ou levemente laminados. Os estratos de conglomerados intraformacionais, de espessura variável entre 3-5 cm a 50-60 cm, apresentam matriz silto-argilosa, por vezes ferruginosa. No seio desta matriz ocorrem clastos de natureza siltítica, mais ou menos alterados, subredondos a redondos e de alta esfericidade, com geometria canalizada e imbricados, como sucede na região de Zimbreira. Estes conglomerados parecem resultar da erosão de bancadas situadas imediatamente por debaixo deles mesmos por eventual ação de grandes vagas (tempestitos).
A passagem desta formação à unidade seguinte (Formação de Monte da Sombadeira) realiza-se através duma rápida transição de pelitos, intercalados de siltitos e de bancadas areníticas finas, a bancadas de quartzo-arenitos micáceos.
Esta formação é muito rica no conteúdo fossilífero, em particular, em fauna bentónica (trilobites, braquiópodes e bivalves). No entanto, ocorrem ainda fósseis do tipo pelágico ou epipelágico, nomeadamente graptólitos em menor quantidade, mas que permitem determinações estratigráficas mais precisas. Os litótipos característicos e a fauna encontrada indicam que as litofácies desta formação foram originadas em condições de plataforma aberta (offshore), onde o gradiente topográfico deveria ser bastante baixo, possivelmente inferior a O,1°.
PONTO 4 - Coordenadas
39°36'25.0"N 7°51'47.0"W
Limite entre a Formação de Brejo Fundeiro (para a direita) e a Formação de Monte de Sombadeira (para a esquerda).
A Formação de Monte de Sombadeira, do Ordovícico Médio, é caracterizada por uma sucessão de sequências regressivas, constituídas por quartzitos e arenitos intercalados de silto-arenitos, altamente micáceos, pouco fossilífera. Cada sequência é iniciada por alternâncias de finas a médias bancadas de pelitos e siltitos, muitas vezes físseis, e arenitos finamente laminados; sobre esta depositaram-se bancadas finas a médias de quartzitos, por vezes espessas, interdigitados ocasionalmente de leitos com pelitos micáceos. Junto ao topo desta formação ocorrem conjuntos de bancadas areno-quartzíticas de espessura 0,5-2 m, por vezes interestratificadas de rochas vulcânicas com alteração esferoidal com 1-2 m de espessura, reconhecidas no Vale da Estiveira (Corga) e a S da povoação do Casalinho, no flanco S da sinforma Amêndoa-Carvoeiro. As intercalações vulcânicas ácidas têm apenas alguns metros de comprimento e desaparecem lateralmente entre bancadas areníticas.
A formação é constituída por litofácies arenosas de características tempestíticas, sendo relativamente homogéneas ao longo de toda a região em estudo. No entanto, a espessura pode variar acentuadamente, de alguns metros a várias dezenas de metros. Esta unidade é caracterizada por esparsa fauna e baixa diversidade de trilobites, braquiópodes e moluscos.
Na litofácies silto-pelíticas, em particular nas bioturbadas da parte superior ocorrem vários tipos de icnofósseis, nomeadamente Planolites, Palaeophycus, Arthraria, Didymaulichnus e Taenidium.
O seu limite superior é marcado pela última bancada de quartzo-arenítica, sobre o qual se desenvolve, por vezes, um nível conglomerático ferruginoso com características similares ao horizonte anteriormente descrito, a partir da qual ocorrem litologias pelíticas da unidade subsequente.
PONTO 5 - Coordenadas
39°36'24.0"N 7°51'48.0"W
Limite entre a Formação de Monte de Sombadeira (para a direita) e a Formação de Fonte da Horta (para a esquerda).
A Formação de Fonte da Horta, do Ordovícico Médio, corresponde a uma sucessão pelítica constituída por pelitos fossilíferos intercalados, muitas vezes de siltitos, mais raramente de bancadas finas a médias de quartzo-arenitos escuros e de horizontes conglomeráticos intraformacionais, geralmente de espessura centimétrica. Outra característica presente nesta unidade consiste na existência de intraclastos siltíticos, de forma mais ou menos esférica e dimensões variáveis ( <10 cm). Estes ocorrem individualmente nas bancadas pelíticas ou constituindo estratos lenticulares com alguns centímetros de espessura.
Esta formação é caracterizada por conter macrofauna dominada por bivalves e ostracodes, ocorrendo ainda trilobites, braquiópodes, gastrópodes, moluscos, equinodermes e raros graptólitos. Nesta unidade aparecem frequentemente icnofósseis dos géneros Tomuculum e Palaeophycus, estes preferencialmente piritizados, que se encontram associados, normalmente, a estratos homogéneos de natureza pelítica.
O limite superior desta unidade corresponde à base da primeira barra de quartzitos pertencente ao Membro de Cabril da Formação de Ribeira do Casalinho. Por vezes, no contacto com a base da bancada quartzítica anterior aparece um nível de ferro oolítico com fosfatos e fragmentos de siltitos e pelitos.
PONTO 6 - Coordenadas
39°36'22.0"N 7°51'51.0"W
Limite entre a Formação de Fonte da Horta (para a direita) e a Formação de Ribeira do Casalinho (para a esquerda).
A Formação de Ribeira do Casalinho, do Ordovícico Médio, é constituída, na parte inferior, por bancadas de quartzitos impuros, normalmente laminados e/ou com estratificação entrecruzada do tipo hummocky, intercaladas de alternâncias silto-pelíticas de cor escura (Membro de Cabril). Sobre o topo erosionado da última camada de quartzito impuro ocorre um estrato conglomerático, com desenvolvimento lenticular, de fraca espessura. Este conglomerado caracteriza-se por ser clasto-suportado e de matriz silto-arenosa pigmentada por óxidos de ferro, tomando nas zonas de menor possança, o aspeto de brecha. Os clastos, subrolados a subangulosos, de dimensão milimétrica, são de quartzito, quartzo, arenito, siltito, pelito e de fosfatos, não tendo sido descoberto nenhum fragmento fóssil. Quando forma a brecha conglomerática observam-se oólitos de ferro e clastos fosfatados de cor negra, numa matriz arena-ferruginosa fortemente alterada.
Por cima do horizonte conglomerático anterior ocorrem pelitos e siltitos negros intercalados ocasionalmente de intraclastos ou de horizontes de intraclastos de composição silto-pelítica com espessura centimétrica (Membro da Carregueira). Alguns destes intraclastos contêm briozoários (ribeira do Casalinho) e pirite disseminada, por vezes agregada, constituindo pequenos nódulos. A este membro sobrepõem-se as "Camadas de Favaçal" que constituem a base da Formação de Cabeço do Peão.
PONTO 7 - Coordenadas
39°36'21.0"N 7°51'55.0"W
Limite entre a Formação de Ribeira do Casalinho (para a direita) e a Formação de Cabeço do Peão (para a esquerda), do Caradociano inferior.
Neste local observa- se que o horizonte de ferro oolítico (“Camadas de Favaçal”) da base da Formação de Cabeço do Peão, do Ordovícico Superior, está sobre 9m de bancadas de quartzitos ferruginosos incluídos no Membro de Cabril, da Formação de Ribeira do Casalinho. No topo deste membro são visíveis sobre a última bancada de quartzito, ainda restos de pelitos erosionados do Membro de Carregueira, da Formação de Ribeira do Casalinho. Assim, existe uma descontinuidade erosiva, recoberta por um horizonte de ferro oolítico constituído por oóides de chamosite e material remobilizado que inclui clastos e nódulos fosfatados com microfósseis (quitinozoários) procedentes das unidades subjacentes. Esta composição evidencia um período de intensa erosão, em particular das unidades subjacentes à Formação de Cabeço do Peão. Este episódio erosivo é o responsável pelo desaparecimento da totalidade (cerca de 24m) das litologias que constituem o Membro da Carregueira e à escala macroscópica ressalta uma clara discordância cartográfica entre a Formação de Ribeira do Casalinho e a Formação de Cabeço do Peão que se observa, em particular no flanco N da estrutura maior Amêndoa-Carvoeiro.
A forte erosão do topo da Formação de Ribeira do Casalinho, a variabilidade de espessura dos membros que constituem a Formação de Cabeço do Peão, no interior do sinforma de Amêndoa-Carvoeiro, e a presença de níveis centimétricos de rochas subvulcânicas estratiformes, de espessura decimétrica, intercaladas nos primeiros estratos da Formação de Cabeço do Peão sugere que possa haver um condicionamento tectónico à escala regional de distensão crustal que ocorreu durante este período de tempo no bordo da plataforma do Gondwana. A amplitude máxima deste evento ocorreria eventualmente no SW da Sardenha e estaria associado à discordância sárdica s. s., consequência da movimentação do soerguimento sárdico-turco.
PONTO 8 - Coordenadas
39°36'19.2"N 7°52'00.2"W
Limite entre a Formação do Cabeço do Peão (para a direita) e a Formação de Ribeira da Laje (para a esquerda).
A Formação de Ribeira de Laje, do Ordovícico Superior, é caracterizada por uma sequência regressiva, que se inicia por um horizonte conglomerático sobre a qual ocorrem pelitos micáceos intercalados de arenitos bioturbados e quartzitos impuros, que aumentam progressivamente de frequência e espessura para o topo da sucessão. O horizonte conglomerático é caracterizado por clastos de pelitos negros e nódulos de fosfato de forma mais ou menos circular, com dimensão milimétrica, dispersos no seio de uma matriz arenítica. No topo da sucessão predominam bancadas amalgamadas de quartzitos impuros normalmente maciços, por vezes com estruturas laminadas com espessura de cerca de 5 a 10m.
A formação é caracterizada pela escassez de conteúdo fossilífero. Contudo, associado às bancadas de silto-arenitos e de arenitos fortemente bioturbados, ocorre uma fauna esparsa de fragmentos de braquiópodes mal conservados e com evidências de remobilização. Observam-se ainda numerosos icnofósseis, nomeadamente Bifungites, Chondrites, Palaeophycus e Skolithos. Estes icnofósseis encontram-se associados normalmente a litofácies que foram remobilizadas por organismos que destruíram parcialmente ou quase completamente a fabric sedimentar original destes depósitos.
O seu limite superior corresponde a uma superfície erosiva marcada por um horizonte centimétrico de brecha conglomerática ferruginosa, por vezes, com fragmentos de fósseis (braquiópodes e briozoários) e clastos de carbonatos alterados (?), pelitos e arenitos, que ocorre sobre o último conjunto de bancadas de quartzito.